sexta-feira, 23 de março de 2012

Carta ao Presidente do Clube Naval

Carta ao Presidente do Clube Naval

Rio de Janeiro/ RJ, em 02 de Março de 2012.
Prezado VEIGA CABRAL,
Como filho de chefe militar revolucionário de 1964, e, eu mesmo, junto com a esmagadora maioria dos Aviadores Navais, de então, revolucionários de 1964 também, com MUITA HONRA e ORGULHO, venho à Sua presença, hora na condição de Presidente em exercício do Clube Naval, para manifestar a minha opinião sobre os recentes fatos envolvendo essa Instituição que congrega os Oficiais da Reserva da Marinha, majoritariamente.
Estou triste e decepcionado, e porque não dizer envergonhado diante do recuo dos três Clubes Militares ao retirarem, segundo soube por ordem superior, de manifesto com a veiculação ao público através da WEB, cujo teor contestava as atitudes revanchistas e intempestivas tomadas por esse governo de “oportunistas”, que assim o nomino para manter a solidariedade verbal, evitando, a todo custo, não mergulhar em comentários sobre os desprezíveis atos de corrupção hora genericamente alcunhados de “malfeitos”, como recurso de argumentação para encobrir crimes.
Pensei seriamente, caro VEIGA CABRAL, em me desligar de sócio efetivo do Clube Naval e do Clube Militar, mas, ao refletir melhor escoimei essa ideia dos meus pensamentos, ao avaliar que as instituições em questão são perenes no tempo e colocadas muito acima dos homens que as compõem, figuras humanas de conotação efêmera; Passam e a instituição fica.
Sinto, sim, saudades dos verdadeiros lideres navais que tive o privilégio e a honra de conviver com Almirantes Radmacker, Bosídio, Levi Pena, Arão Reis, Branco, Januzi, e tantos outros que da Marinha, do Exército e da Aeronáutica que me tornaria enfadonho enumerá-los todos, merecedores de citação por suas qualidades intrínsecas, tanto morais, como militares.
Não consigo, por mais que me esforce, entender os rumos que nossas forças armadas estão tomando, ignorando, por completo, a cizânia que esses “nefastos” estão rotineiramente tentando impor, inclusive através da mídia escrita, falada e televisada, como por exemplo, em nossa Marinha, dividindo-a em duas – as de 64 e a atual - seguindo à risca, a máxima de lançar a desarmonia para manter o poder. Será que a indispensável visão crítica está totalmente obliterada? Será? É de perguntar.
Como tive a oportunidade de relatar-lhe em conversa telefônica que mantivemos tempos atrás, a minha família foi vítima do rancor desses “comunistas” hora arrependidos (será?), que à época tentaram, sem êxito, instalar neste país uma ditadura ao estilo cubano (à qual louvam até hoje), soviética ou chinesa.
O Marxismo – Leninismo era disseminado em todos os cantos por professores (as), cujos nomes constam de inquéritos conclusos arquivados no STM. Não preciso nominar, pois todos conhecem.
A oficialidade de hoje, VEIGA CABRAL, que não vivenciou, inclusive os da alta administração, os momentos sombrios que este país passou à época e que foram, felizmente estancados pelo movimento de Março de 1964, precisa entender que a nossa Marinha é uma com valores imutáveis, não cabendo qualquer tipo de divisão que por ventura tentem impor através de argumentos falaciosos, baseados em circunstâncias de momento e totalmente espúrias.
Como tive a oportunidade de lhe dizer há algum tempo, se a Marinha, como instituição secular, sobreviveu e permanece integra como as demais coirmãs de armas, devem a minha geração de oficiais e de verdadeiros, em todos os sentidos, - Chefes Militares, austeros, corajosos, probos e ativos, todos imbuídos de convicções democráticas sólidas, em sua totalidade já falecidos, na condição de pobres financeiramente, mas ricos em seus ideais, na medida em que a vida castrense, como sacerdócio, não contemplam riqueza. Esta é a pura verdade.
Falo com conhecimento de causa, pois olho a minha mãe, hoje com 90 anos, cuja fortuna resume-se além e principalmente pela lembrança digna de meu Pai, em um teto e uma pensão militar para sobreviver.
Quero lhe dizer, caro VEIGA CABRAL, que me solidarizo totalmente com esse seleto grupo de oficiais da reserva, cujas considerações expostas em manifesto fazem eco com minhas palavras que continuam firmes.
Não posso ler artigos publicados na mídia (como o que coloco apenso) ofensivo à nossa instituição Clube Naval, ridicularizando seus integrantes, e, não em raros momentos, as nossas Forças Armadas que, infelizmente, não se limitam a mais, nos dias correntes, à sua missão precípua e às suas atividades subsidiárias previstas em documentos legais.
Tornaram-se, desafortunadamente, um instrumento para o vale-tudo, objeto de mil e uma utilidades, inclusive subindo favelas atrás de traficantes de drogas com recurso de blindados.
A degradação e o enfraquecimento de nossas instituições Militares é o mantra que anima e alimenta esses “oportunistas ideológicos”, começando por aluir sua atividade mater, vulgarizando seus integrantes, apequenando suas existências como Forças desnecessárias, minorando suas verbas para o devido e adequado aparelhamento, remunerando com soldos irrisórios (acredito que um Capitão-Tenente, piloto operacional em A-4, ganhe menos que um ascensorista do legislativo) e muitas outras ações de desmerecimento que são do conhecimento público e que eles exercitam muito bem e de forma sistemática.
Caro VEIGA CABRAL, é triste para mim, já na velhice, presenciar tais fatos, consternação que se amplia quando lembro de todos aqueles que já se forma e que lutam para fazer deste belo país um lugar decente para se viver e trabalhar, forjado em uma verdadeira democracia onde imperasse a observância as leis e costumes e não esse estado de anomia que observamos e inafortunadamente somos obrigados a vivenciar e conviver, embora com o estômago revoltado.
Sempre me mantive em silêncio, no entanto diante de tantas barbaridades que se perpetuam com a maior desfarçatez, sem o0 mínimo de escrúpulo, pois esse valor de à muito desapareceu nos horizontes daqueles que deveriam, pelo exemplo preservá-lo, não posso, não devo e não quero manter este silêncio a que me impus, motivo pelo qual, no momento, estou lhe enviando este singelo desabafo – na medida em que muito mais teria para escrever - de um militar com mais de anos de serviço e que deixou a Marinha a pedido com anos de CMG, por motivos de fôro íntimo, sem qualquer hesitação.
Reafirmando a minha amizade e formulando um continuar de sucessos em sua atual empreitada, despeço-me,
Com abraço do,
P.S.- Por assumir a inteira e total responsabilidade pelo conteúdo desta missiva, deixo o Presidente do Clube Naval inteiramente à vontade para a ela oferecer o seu melhor destino, caso julgado oportuno.

Um comentário:

  1. Congratulo-me com o amigo e colega de Turma , pelo intrépido e oportuno pronunciamento dirigido ao Presidente do Clube Naval.
    CMG (FN) Ref Eduardo Araripe

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